quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A tal da inveja

Hoje indo embora do trabalho, tarde da noite, ao parar no semaforo e olhar para o carro do lado vi um dos ocupantes enrolando um baseado, e fiquei com um pouco de inveja.... Nao pela droga em si, que nunca usei e nao tenho a menor vontade de experimentar, mas sim pelo descompromisso do momento, e fiquei pensando em como invejamos a vida dos outros sem saber o que tem por trás. Se alguem tivesse me visto hoje, sentado num quiosque na beira da praia as 23h30 tomando agua de coco deve ter pensado: "olha so um playboy com a vida ganha, chegou num carro bom, tem roupa cara... Deve ser filinho de papai, queria essa vida"... Pois e... Mal sabe ele que na verdade tinha acabado de sair da empresa, depois de um dia duro, como muitos outros que passei e tantos outros que virão, e que parei ali para pensar na vida, tentar achar a solução para uns problemas que não achei a resposta, que o carro eu pago com o suor e sangue do meu trabalho de 14 horas diárias. Numa perspectiva maior, um bando de gente inveja Madonna, Michael Jackson, Adele, Eike Batista, FHC, Silvio Santos e tantos outras pessoas bem sucedidas que vemos na midia... Todos querem sua fama e dinheiro. Mas quem quer a responsabilidade deles? Imagine quanta pressão esses artistas precisam lidar para bater recordes de vendas, lotar shows, estar magros, sorridentes e simpáticos todo o momento, a falta do direito do mal humor. Imaginem a responsabilidade de ser o dono de uma empresa, como e o Eike, e a quantidade de familias que dependem dele. Ultimamente estamos muito desejosos dos bonus das nossas invejas. Desejamos a gerencia, direção e presidência das empresas, queremos ser Famosos BBB, para usufruir a vida vazia de festas e revistas de celebridades, mas não queremos a responsabilidade de trabalhar duro para isso. Um dia ouvi que não deveria desejar o que o outro tinha, pelo simples fato de que nao sabia o que a pessoa tinha passado para chegar ate ali. Madonna e MJJ tiveram infancias infelizes. Eike nao acertou sempre. FHC nao nasceu sociologo pronto e foi extraditado na ditadura. Olhando de fora quem sou eu, e o que eu tenho... Tenho a certeza de que sou invejado e que ha motivos para isso.... Sabendo o que eu passo para atingir isso, tenho certeza que nao e uma vida facil. Hoje almejo atingir alguns objetivos pessoais e profissionais, mais me espelhando em algumas pessoas em termos de postura, carater e Experiencia....mas nao desejo a vida delas... Prefiro a minha que eu conheco muito bem. E voce, como lida com isso?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A terceirização da culpa

Ultimamente tenho ouvido muito a mesma coisa: "nossa, você sumiu", "a empresa não apóia meu crescimento", "meu professor não me ajuda", "o governo é corrupto"... estamos terceirizando a culpa pelos fracassos e não estamos mais assumindo a responsabilidade pelos nossos atos, está fácil colocar a vida na mão dos outros. Senão vejamos.

1. A empresa precisa ajudar o seu crescimento? Sim, precisa dar ferramentas e ter políticas claras de benefícios para os seus colaboradores, trazer desafios, proporcionar um ambiente saudável de competitividade, não permitir que se mantenha na zona de conforto, ter bons líderes que definam objetivos claros para a empresa. Não, quem é responsável pelo seu crescimento é você mesmo, que deve investir em estudos, outras línguas, em leituras, pesquisas e tudo mais. Você deve estar preparado para assumir uma nova responsabilidade, e não receber a nova responsabilidade para se preparar.

2. Você anda sumido! Em época de facebook, twitter, orkut, google+ e todas as redes sociais, só some quem quer e isso gera um esforço danado. Você tem a informação no smartphone, no tablet, na internet... como é que você consegue dizer que alguém sumiu? Você sai da vida dos outros, porque simplesmente está focado em outras coisas da sua vida (namoro, trabalho, faculdade, cursos) e não quer assumir a responsabilidade por ter perdido o contato. A vida muda, as pessoas mudam, os caminhos se distanciam e você tem outros interesses, outro círculo de amizades... aceite isso: seus amigos de hoje não são necessariamente seus amigos de ontem, e não tem nenhum mal nisso.

3. O governo é corrupto! Sim...é... porque você também é e porque você votou neles. É um fato. Um palhaço ganhou eleição, porque foi um voto de protesto, e nessa foi um boom de corruptos juntos. Colocamos mulheres frutas e políticos que roubam, mas dizem que fazem. Você compra filme pirata no camelô, e roupa falsificada no shopping popular. Paga propina para não te multarem, para em vaga de idoso ou deficiente.... mas a culpa é do governo que rouba sozinho. será mesmo? agora vejo um bando de gente indignada com a corrupção, querem derrubar Deus e o Mundo, mas não mudam a postura.

Sabe, essa postura "passiva-culpadora" anda me cansando um pouco. Não aguento mais pessoas reclamando dos outros, querendo se eximir das culpas.... a empresa tem sua responsabilidade pelos colaboradores, mas e a sua responsabilidade de trabalhar e cumprir sua parte no contrato de trabalho e de não ficar enrolando na internet o dia todo. Porque não ligar para seus amigos quando você sentir saudades e atender feliz quando eles ligarem. Porque não pesquisar em quem você vota, ver seu passado, suas propostas....Assuma a responsabilidade pela vida. Seja feliz, trabalhe duro, vote correto, seja honesto, seja autêntico...

p.s.1: foi mais um desabafo do que um bom texto do blog.
p.s.2: quero mais e travessuras e gostosuras na minha vida!

sábado, 17 de setembro de 2011

Onde você quer estar?


De acordo com a Madonna, não há mais tempo a perder, que é preciso decidir se você quer ficar no backstage ou se quer ser a estrela. Em Beats Go On, ela define a necessidade das pessoas em tomarem conta do rumo de sua própria vida. Basicamente não adianta esperar que os outros tomem as atitudes em seu nome, ou você vai e age ou então para de reclamar de que nada acontece.

Essa temática esta presente em algumas músicas da Madonna na era pós Cabala, mas também em outros artistas, e aqui só para mencionar uma das minhas músicas prediletas, Roxette, em Listen To Your Heart, diz que é preciso escutar o seu coração (aqui visto como seu sexto-sentido), antes que ele parta. É preciso tomar atitude, não ter medo de ser o que se quer ser ou se pode perder a chance de ser feliz.

Em regra temos muito medo de sermos o que realmente somos, e acabamos usando diversas máscaras, no trabalho, na família, na rua, no namoro. Deixamos de assumir o controle de nossas decisões porque isso pode não pegar bem, a sociedade pode não gostar, etc. É claro, isso faz muito sentido, quando você olha em volta e percebe quão hipócrita é a sociedade em que vivemos, que tem fama de liberal, com mulheres nuas no carnaval, mas que no fundo tem a festa pagã como um sopro de liberdade em nossa imaculada cultura repressora.

Queremos ser elegantes, cultos e modernos que nem alguns povos do chamado primeiro mundo, mas nos igualamos às tribos localizados nos lugares mais longínquos do mundo. Talvez até mesmo mais reprimidos.

Quando penso que é preciso escolher querer estar no backstage ou na frente é necessário saber que estar na frente é estar pronto para ser ponto de inveja, intrigas, fofocas. É preciso ter força para suportar uma sociedade como a nossa, em que o sucesso e o dinheiro é visto quase que como uma praga, é quase um crime, imposto por uma culpa católica histórica e quase histérica.

Quando escolhi sair do backstage, algum tempo atrás precisei aprender a lidar com uma timidez enorme, e romper com a culpa contrária ao sucesso, pois  lá não é o lugar de estar para as almas boas que tem lugar garantido no céu, diz a religião. É óbvio que a busca para tornar-se uma estrela deve ser baseada em princípios éticos fortes, chegando ao sucesso por méritos próprios e não passando por cima dos outros, mas não pode ser considerada como um castigo. Basta que tenha sido feita a escolha por estar em destaque. Mas e você, onde quer estar?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

1 mês de Saudades


Hoje faz 1 mês que a minha vó faleceu, não houve comoção nacional, nem feriado, não teve a presença de ilustres convidados, nem de políticos, não veio a rainha, o rei, ou algum representante da realeza. Teve a presença da família e poucos amigos.

Ela não foi heroína, artista, poeta, cantora, não foi daquelas mulheres perfeitas representadas por Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe ou Angelina Jolie, não salvou o mundo, nem fez uma revolução, mas foi a sua maneira heroína da sua vida.

Saiu do sertão carioca, que visitei dias atrás, e ainda hoje parece ter sido esquecido pela civilização moderna, pense nisso a 60 e poucos anos atrás. Arrumou emprego e virou mulher moderna. Trabalhou em fábrica, namorou, casou, teve filhos. Viveu o golpe militar, sobreviveu ao racionamento, criou dois filhos.

Decepcionou e para espanto da sociedade desquitou. Imagine-se em sua pelem vivendo numa cidade pequena do interior do Rio de Janeiro, acostumada a pompa, cultura e tradição, com os barões e baronesas, herdeiros da realeza e falidos, mantendo a pose.  Teve a sociedade contra, deve ter sido acusada, recusada, desdenhada. Mas sobreviveu.

Lutou, enamorou-se, apaixonou-se novamente. Após tanto sofrimento deu-se nova oportunidade de ser feliz, foi mais forte que muitos homens de grande  estatura e alta graduação acadêmica. Trabalhou, virou funcionaria pública. Ajudou filhos em momentos de dificuldade econômica. Financiou a mudança para São Paulo, nos ajudou, à sua maneira a vencermos.

Errou e acertou de várias formas com diversas pessoas, mas nunca deixou de viver a sua vida por sua conta e risco. Embora não fosse figura de fácil lida arrebanhou amigos pelo caminho que lamentam a sua morte com pesar e com a vontade de pedir para ficar mais um pouco, para quem sabe ter seu último desejo atendido, que ficará para sempre na intenção de alguém que não poderá ser redimido jamais.

Morreu como todos gostariam, dormindo, com semblante de paz, sabendo que era amada e respeitada pelos que a cercavam. Teve sua família perto, como deveria ser. Deixou amigos, como deveria ser. Deixou saudades, como deveria ser. Só não deixou mais um domingo de festa, como deveria ter sido.

Que você descanse em paz, como deve ser. Sentiremos saudades, com menos dor um dia, como deverá ser. Com amor, da sua família.

domingo, 26 de junho de 2011

As tribulações de Virginia

Ontem fui no teatro, ver uma peça de um grupo espanhol, chamado  Hermanos Oligor, que conta a historia sem final feliz de Virginia, que queria ser bailarina. Pois bem, dois momentos me marcaram na peça, mas falarei apenas de um, o outro é deveras pessoal.

Em um determinado momento da peça, o ator pergunta ao público qual foi o exato momento da sua vida que você se deu conta que não era mais criança, quando é que perdeu a ilusão do lúdico, em que percebeu que as coisas não era mais tão simples. O silêncio na platéia foi sepulcral, ninguém conseguiu responder.

Eu fiquei com a pergunta na minha'lma por toda a noite, embora estivesse envolto em tantas coisas na mente, não consegui esquecer. Eu sabia a resposta, eu lembro o momento, eu sei quando descobri que a vida não era mais uma fantasia, que as brincadeiras não aconteceriam mais da mesma forma, foi ali, naquele momento que perdi a inocência, foi ali que entrei no furacão, todos os meus passos me guiaram para onde estou hoje.

Até aquele momento meus passos eram apenas de evolução da infância, até ali eu cresci e vivi meus sonhos.... vivia o lúdico, brincava de guerra, paz, de ser famoso, rico, pobre e anônimo, era amado e amava quem eu quisesse. A vida de adulto não é assim, é cheia de altos e baixos, os monstros que habitavam debaixo da cama, agora estão na sala de reunião, na mesa da frente, do outro lado da linha. Agora fingir que sou rico impacta na fatura do cartão de crédito. Não sou famoso, nem sou anônimo. Já amei e fui amado.

O que mexeu comigo foi a possibilidade de manter a vida adulta lúdica, no meio do mundo corporativo. Será que essa liberdade poética está restrita aos músicos, atores e artistas em geral? Será que os mortais podem manter esse sentimento?

Sinto que estou no direito de me sentir sonhando novamente. Acreditar no amor, talvez seja esse o lúdico do adulto.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Crise da Maturidade


E entao um dia voce acorda e descobre que o que mais deseja e estar com aquela pessoa que deixou escapar das suas mãos e por culpa totalmente sua. Qual a melhor coisa a fazer? Nao existe resposta fácil a essa pergunta, e nao sou eu que darei formulas magicas para resolver. Mas eu passei por isso e tomei a minha postura, a minha atitude.

Nos ultimos tempos estou com "excesso de honestidade", normalmente sou um cara tímido, com dificuldades de comunicacao verbal quando o assunto e sentimento, magoas e afins, mas que ultimamente tem se utilizado de um artificio que tem se mostrado eficiente: falar desarmado, sem a intenção de magoar e apenas querendo esclarecer da melhor forma possível. Vamos nos magoando com o passar das horas e dias, acumulando um peso que nao nos pertence ate que um dia isso vira uma doença.

Pois e, num processo que eu chamo de maturação, pois estou me tornando uma pessoa mais madura, principalmente nesses ultimos dois anos, eu resolvi, ao final desse ciclo mudar algumas posturas diante da vida, dentre elas, deixar de carregar bagagens desnecessárias, consumo mais consciente (embora ainda seja um pouco consumista e com gosto pelo que e bom) e mais liberdade de pensar e agir, sempre dentro de regras éticas, e diminuição de magoas.

Pois e, nesse processo todo, pude intensificar relacionamentos que estava perdendo, me reaproximei de pessoas que estava perdendo contato, voltar a sorrir mais leve e dormir melhor. Nao e uma mudança fácil, mas dias atras estava lendo um texto do Paulo Coelho e ele dizia que se nos esforçássemos 10 minutos do nosso dia para sermos quem nos desejamos ser, isso já seria um grande passo. E concordo com ele, neste sentido... Para desejar a mudança e preciso esforçar-se em mudar. De nada adianta fazer promessas de réveillon se nao agimos no sentido de cumprir. Estou me esforçando em ser a pessoa que eu gostaria de ser.

A minha promessa para 2011 e muito simples: ser feliz em todos os aspectos: familia, amor, trabalho, dinheiro, cultura. Nao sera fácil mudar tudo isso. Abrir a mente, conhecer pessoas, lugares, culturas, economizar, dedicar-se as coisas que realmente importam, de forma focada e exclusiva em cada uma delas. Mas acho que estou no caminho certo. Meu coração diz isso, pelo menos estou me esforçando no que eu acho que vale a pena.

Já dei os primeiros passos, pedi desculpas a quem devia, perdão a quem a merecia e declarei-me a quem valia a pena. O que ira acontecer daqui em diante nao pertence apenas a minha responsabilidade, e também dos outros, que precisam me entender, me dar oportunidades, me perdoarem se acharem que valho a pena.

O processo de purificação nao precisa acontecer longe de casa, na Índia, China, no caminho de Santiago de Compostela, ou afins, tem de acontecer no lugar de mais dificil acesso que ja ouvi falar, e que nao tem pacote de viagens ou guias com bandeirinhas para indicar o caminho: o coração! E lá que as coisas devem efetivamente acontecer, e onde e mais dificil de conseguir.

As mudanças externas sao fáceis, e só seguir a revista da moda, falar alguns chavões da nova auto-ajuda, usar a roupa, cor e textura da moda e sempre estara atualizado, mas a questão e saber se isso e voce mesmo ou se e um dos personagens criados para a sobrevivência no mundo atual, corporativo, capitalista e da mídia e sucesso de 15 minutos para todos.

O ponto de mudança só vale a pena quando se tem uma mudança interna com reflexo nas atitudes reais, em como voce enxerga o mundo e como e visto pelas pessoas que falhem a pena.

Nesse processo, estou fazendo a minha parte, mas dependo dos outros perceberem o quanto mudei e amadureci (mesmo ainda longe do meu ideal) e que eu mereço uma segunda chance de provar que eu mudei também.

Há uma música de Edith Piaf (Non, je Ne regretten rien), que diz muito sobre esse momento, sobre nao importar o bem ou o mal que me fizeram, as minhas lembranças, o que vale e o novo, o recomeço. E isso que espero, um recomeço.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Crise de Chegadas e Partidas

Assim como diz a música interpretada pela Maria Rita, a estação é o local onde acontecem as chegadas e partidas, onde as pessoas chegam e seguem viagem, onde há despedidas, mas também reencontros. E é nesse ponto que quero me prender, os reencontros.


Estava no portão de desembarque do aeroporto de SP esperando meus pais e fiz um dos meus esportes prediletos: observar as pessoas, não com o simples interesse fofoqueiro, mas como um aprendizado da vida, e percebi a intensidade do sangue latino que corre nas nossas veias, com os reencontros ocorridos ali, naquele espaço público, em que não há vergonha para as lágrimas dos mais durões.


Enquanto observava, uma familia esperava ansiosamente a volta do filho que fora fazer intercambio em Londres, Inglaterra. Ali, o sentimento era uma mistura de orgulho, pois provavelmente foi o primeiro da família a romper a barreira do oceano para melhorar de vida, aprender uma nova língua e tornar-se cosmopolita, e o sentimento de saudades, de querer ter sempre perto a pessoa amada, mas que mesmo longe não fez apagar o sentimento da familia e amigos. Uma faixa estendida por uma das pessoas do grupo dizia em inglês algo como “não importa onde você esteja, em Londres ou aqui, eu sempre te amarei”. A força dessa frase derrete os mais congelados corações.


Do meu lado estava uma mãe e dois filhos, acompanhados da família nipônica. Aguardavam de forma ansiosa o retorno do pai e marido, que não viam a 4 anos, na sua última visita ao Brasil. Foi morar no Japão para dar condições melhores à família. A ansiedade da esposa, com saudades do beijo do seu marido, e ao que pareceu aos meus olhos do seu amor de verdade, saltava aos olhos. Os filhos, não se continham na ansiedade e embora, para mostrar toda a “macheza” da pré-adolescência juravam que não iriam chorar, estavam gelados, ansiosos, e embora eu não tenha visto a chegada do pai/marido, tenho certeza que as lágrimas não se intimidaram pelas promessas.


Mais adiante um rapaz solitário segurava o buquê de flores para uma pessoa amada. A saudade estava estampada nas rosas vermelhas, cor de paixão, que ele escondia cuidadosamente nas suas costas, para desvendar apenas no momento do abraço apertado.


Uma familia, parou o corredor de desembarque em abraços apertados aos parentes Espanhois, que acabaram de chegar de Madrid, a saudades deles era enorme, era Latina, o reencontro foi emocionante.


Essas histórias me fizeram refletir sobre a existência da palavra saudades existir apenas na língua Portuguesa. No ingles, você sente falta, nós também, sentimos falta de sorvete no verão, de água quando temos sede, mas é um sentimento menos nobre, mais ordinário. A Saudade é mais. Dói como paixão, certas vezes com a certeza de que irá desaparecer quando o avião pousar, o ônibus estacionar o trem parar, a porta se abrir e o abraço for dado. Outras vezes sabemos que a saudade não será jamais eliminada, pois a viagem foi sem volta, o enterro feito, a missa rezada e a vela acendida.


A saudade não é um sentimento exclusivo de quem fica, quem vai também carrega consigo na bagagem de mão, perto do coração, mas está enebriado pelas experências, entorpecido pelo jet leg, cansado da viagem.


É certamente, a saudade, é um dos sentimentos mais dificieis de lidar, pois, em sua maioria, independe de uma ação sua. Há o conformismo, o tempo que transformam a saudade em sentir falta, e talvez um dia, numa lembrança doce de um sorriso espontâneo e a foto instantânea colocada no porta retrato.


Nenhuma daquelas pessoas que desembarcaram ontem eram as mesmas que se foram um dia. Evoluíram, tiveram experiências, espera-se que tenham crescido, conehceram lugares, pessoas, perfumes, sabores. Quem espera, também mudou. Mas a junção da saudade de quem volta e quem espera, transformado em um abraço apertado, uma lágrima no olho, um sorriso no rosto faz com que só se perceba o essencial que retorna. Aquele coração para perto. Aquele amigo, pai, irmão, marido, mulher, filho que está no aconchego dos braços.


O desembarque é onde eu tenho a certeza de que ainda há sentimentos puros na vida cosmopolita e digital da contemporaniedade.