terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Crise da Maturidade


E entao um dia voce acorda e descobre que o que mais deseja e estar com aquela pessoa que deixou escapar das suas mãos e por culpa totalmente sua. Qual a melhor coisa a fazer? Nao existe resposta fácil a essa pergunta, e nao sou eu que darei formulas magicas para resolver. Mas eu passei por isso e tomei a minha postura, a minha atitude.

Nos ultimos tempos estou com "excesso de honestidade", normalmente sou um cara tímido, com dificuldades de comunicacao verbal quando o assunto e sentimento, magoas e afins, mas que ultimamente tem se utilizado de um artificio que tem se mostrado eficiente: falar desarmado, sem a intenção de magoar e apenas querendo esclarecer da melhor forma possível. Vamos nos magoando com o passar das horas e dias, acumulando um peso que nao nos pertence ate que um dia isso vira uma doença.

Pois e, num processo que eu chamo de maturação, pois estou me tornando uma pessoa mais madura, principalmente nesses ultimos dois anos, eu resolvi, ao final desse ciclo mudar algumas posturas diante da vida, dentre elas, deixar de carregar bagagens desnecessárias, consumo mais consciente (embora ainda seja um pouco consumista e com gosto pelo que e bom) e mais liberdade de pensar e agir, sempre dentro de regras éticas, e diminuição de magoas.

Pois e, nesse processo todo, pude intensificar relacionamentos que estava perdendo, me reaproximei de pessoas que estava perdendo contato, voltar a sorrir mais leve e dormir melhor. Nao e uma mudança fácil, mas dias atras estava lendo um texto do Paulo Coelho e ele dizia que se nos esforçássemos 10 minutos do nosso dia para sermos quem nos desejamos ser, isso já seria um grande passo. E concordo com ele, neste sentido... Para desejar a mudança e preciso esforçar-se em mudar. De nada adianta fazer promessas de réveillon se nao agimos no sentido de cumprir. Estou me esforçando em ser a pessoa que eu gostaria de ser.

A minha promessa para 2011 e muito simples: ser feliz em todos os aspectos: familia, amor, trabalho, dinheiro, cultura. Nao sera fácil mudar tudo isso. Abrir a mente, conhecer pessoas, lugares, culturas, economizar, dedicar-se as coisas que realmente importam, de forma focada e exclusiva em cada uma delas. Mas acho que estou no caminho certo. Meu coração diz isso, pelo menos estou me esforçando no que eu acho que vale a pena.

Já dei os primeiros passos, pedi desculpas a quem devia, perdão a quem a merecia e declarei-me a quem valia a pena. O que ira acontecer daqui em diante nao pertence apenas a minha responsabilidade, e também dos outros, que precisam me entender, me dar oportunidades, me perdoarem se acharem que valho a pena.

O processo de purificação nao precisa acontecer longe de casa, na Índia, China, no caminho de Santiago de Compostela, ou afins, tem de acontecer no lugar de mais dificil acesso que ja ouvi falar, e que nao tem pacote de viagens ou guias com bandeirinhas para indicar o caminho: o coração! E lá que as coisas devem efetivamente acontecer, e onde e mais dificil de conseguir.

As mudanças externas sao fáceis, e só seguir a revista da moda, falar alguns chavões da nova auto-ajuda, usar a roupa, cor e textura da moda e sempre estara atualizado, mas a questão e saber se isso e voce mesmo ou se e um dos personagens criados para a sobrevivência no mundo atual, corporativo, capitalista e da mídia e sucesso de 15 minutos para todos.

O ponto de mudança só vale a pena quando se tem uma mudança interna com reflexo nas atitudes reais, em como voce enxerga o mundo e como e visto pelas pessoas que falhem a pena.

Nesse processo, estou fazendo a minha parte, mas dependo dos outros perceberem o quanto mudei e amadureci (mesmo ainda longe do meu ideal) e que eu mereço uma segunda chance de provar que eu mudei também.

Há uma música de Edith Piaf (Non, je Ne regretten rien), que diz muito sobre esse momento, sobre nao importar o bem ou o mal que me fizeram, as minhas lembranças, o que vale e o novo, o recomeço. E isso que espero, um recomeço.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Crise de Chegadas e Partidas

Assim como diz a música interpretada pela Maria Rita, a estação é o local onde acontecem as chegadas e partidas, onde as pessoas chegam e seguem viagem, onde há despedidas, mas também reencontros. E é nesse ponto que quero me prender, os reencontros.


Estava no portão de desembarque do aeroporto de SP esperando meus pais e fiz um dos meus esportes prediletos: observar as pessoas, não com o simples interesse fofoqueiro, mas como um aprendizado da vida, e percebi a intensidade do sangue latino que corre nas nossas veias, com os reencontros ocorridos ali, naquele espaço público, em que não há vergonha para as lágrimas dos mais durões.


Enquanto observava, uma familia esperava ansiosamente a volta do filho que fora fazer intercambio em Londres, Inglaterra. Ali, o sentimento era uma mistura de orgulho, pois provavelmente foi o primeiro da família a romper a barreira do oceano para melhorar de vida, aprender uma nova língua e tornar-se cosmopolita, e o sentimento de saudades, de querer ter sempre perto a pessoa amada, mas que mesmo longe não fez apagar o sentimento da familia e amigos. Uma faixa estendida por uma das pessoas do grupo dizia em inglês algo como “não importa onde você esteja, em Londres ou aqui, eu sempre te amarei”. A força dessa frase derrete os mais congelados corações.


Do meu lado estava uma mãe e dois filhos, acompanhados da família nipônica. Aguardavam de forma ansiosa o retorno do pai e marido, que não viam a 4 anos, na sua última visita ao Brasil. Foi morar no Japão para dar condições melhores à família. A ansiedade da esposa, com saudades do beijo do seu marido, e ao que pareceu aos meus olhos do seu amor de verdade, saltava aos olhos. Os filhos, não se continham na ansiedade e embora, para mostrar toda a “macheza” da pré-adolescência juravam que não iriam chorar, estavam gelados, ansiosos, e embora eu não tenha visto a chegada do pai/marido, tenho certeza que as lágrimas não se intimidaram pelas promessas.


Mais adiante um rapaz solitário segurava o buquê de flores para uma pessoa amada. A saudade estava estampada nas rosas vermelhas, cor de paixão, que ele escondia cuidadosamente nas suas costas, para desvendar apenas no momento do abraço apertado.


Uma familia, parou o corredor de desembarque em abraços apertados aos parentes Espanhois, que acabaram de chegar de Madrid, a saudades deles era enorme, era Latina, o reencontro foi emocionante.


Essas histórias me fizeram refletir sobre a existência da palavra saudades existir apenas na língua Portuguesa. No ingles, você sente falta, nós também, sentimos falta de sorvete no verão, de água quando temos sede, mas é um sentimento menos nobre, mais ordinário. A Saudade é mais. Dói como paixão, certas vezes com a certeza de que irá desaparecer quando o avião pousar, o ônibus estacionar o trem parar, a porta se abrir e o abraço for dado. Outras vezes sabemos que a saudade não será jamais eliminada, pois a viagem foi sem volta, o enterro feito, a missa rezada e a vela acendida.


A saudade não é um sentimento exclusivo de quem fica, quem vai também carrega consigo na bagagem de mão, perto do coração, mas está enebriado pelas experências, entorpecido pelo jet leg, cansado da viagem.


É certamente, a saudade, é um dos sentimentos mais dificieis de lidar, pois, em sua maioria, independe de uma ação sua. Há o conformismo, o tempo que transformam a saudade em sentir falta, e talvez um dia, numa lembrança doce de um sorriso espontâneo e a foto instantânea colocada no porta retrato.


Nenhuma daquelas pessoas que desembarcaram ontem eram as mesmas que se foram um dia. Evoluíram, tiveram experiências, espera-se que tenham crescido, conehceram lugares, pessoas, perfumes, sabores. Quem espera, também mudou. Mas a junção da saudade de quem volta e quem espera, transformado em um abraço apertado, uma lágrima no olho, um sorriso no rosto faz com que só se perceba o essencial que retorna. Aquele coração para perto. Aquele amigo, pai, irmão, marido, mulher, filho que está no aconchego dos braços.


O desembarque é onde eu tenho a certeza de que ainda há sentimentos puros na vida cosmopolita e digital da contemporaniedade.