segunda-feira, 3 de junho de 2013

Crise da cena do computador

Estava aqui no voo, num daqueles excelentes momentos de ócio entre uma turbulência e outra e me lembrei de uma imagem, la do meu passado, em que nao havia glamour ou riqueza, recem mudados para uma nova casa em SP, graças ao confisco da poupança pelo governo Collor e pela Zélia, as consequências genéricas sao conhecidas de todos.os efeitos em suas respectivas famílias, tambem. Mas nao e nesse sentido que quer discorrer. Mas sobre a cena.

Imagem congelada, em close na janela do quarto lateral, o menor de todos eles e elegível aos caçulas e homens, o que no meu caso estavam juntos. Vê-se ja janela o paredão que divide a casa vizinha, pintado na cor bege e separado pelo corredor que levava a area de serviço e ao gazebo dos fundos. Uma cortina branca, em renda. A câmera, que parecia congelada se mexe lentamente desvendando a cama de solteiro, encostada na parede comuna colcha verde, estampada com quadrados e pequenas flores e o travesseiro combinando, Ao lado uma mesa de cabeceira. Aos pés da cama um armário de 4 portas em pinos claro, que ocupava toda a largura do quarto. Na parede oposta à janela uma escravinha, que ja me acompanhara em muitas lições de casa. Uma prateleira com livros. Um computador 386, monitor VGA em preto e branco, pouca memória, quase nada de HD, entradas para disquete de 3 1/2 e 5 1/4. Eu, adolescente, loiro, cabelo escorrido, meio magro, vestido para ficar em casa, sentado na cadeira e terminando a configuração do Windows 3.1.

Essa cena, melancólica, e talvez ate bucólica, e talvez o começo de muita coisa na minha vida. E ali que começo a ficar conectado, conhecer o mundo, acessar os dados da rede mundial. E ali numa família querendo ser classe media de novo, em que me peguei pensando sentado na minha confortável cadeira da classe executiva rumo a Miami para passear num fim de semana prolongado.

Aquela imagem me remeteu a tempos que a vida era mais simples, nao havia preocupações, em que a minha mente nao tinha se aberto a tantos conhecimentos, meus olhos visto tantas paisagens e imagens de guerras, fome, arquitetura, beleza, arte, informação, de tantas coisas que aprendi e vivi tao boas ou tao ruins. Sentimentos que foram colocados nas gavetas do meu coracao e mente.

A cena que me lembrei me deu uma vontade enorme de sentir algo que nao tenho desde a adolescência, a inocência, de acreditar, sem expectativas ou cobranças. Por outro lado, a cena me mostrou, que apesar de tudo, dos sofrimentos, dos momentos ruins, dos quase desesperos, das vezes em que remotamente pensei em desistir, tudo valeu muito a pena. Me sinto como se tivesse tomado a pílula da verdade de Matrix, vejo tudo tao mais límpido e verdadeiro. A mente que se abriu com a minha historia, treinou muito melhor meu coracao, para decidir quando ter razão ou ser feliz, quando confiar ou nao em alguem, quando cair de cabeça ou nao num relacionamento.


Aquela cena, e aquele quarto.... Sao parte de mim, me construíram o caráter e historia. Aquela cena talvez seja o acontecimento inicial da peca da minha vida e da construção do meu "personagem criador". Embora nao seja inocente como naquele momento, posso dizer que sou feliz, porque aprendi a amar melhor e de tantas maneiras.

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