terça-feira, 10 de novembro de 2009

Crise de Amor

Dia desses conversava com alguns amigos sobre a existência ou não do amor e o que isso representaria em nossas vidas.

Eu sou cético com relação à existência de um determinado tipo de amor: entre os amantes. Entre um casal, independente da raça, credo ou opção sexual não há amor sem interesse.

Acredito, no amor entre familiares e amigos, desde que despidos de qualquer natureza de interesses comerciais, financeiros, ou de herança. Um pai ama incondicionalmente um filho e por conseguinte o seu neto. São amores que remotam ao momento em que não houve interesse promiscuo interferindo as relaçoes. É um amor de formação pura.

Quando falamos naquelas poucas pessoas que criamos laços efetivos de amizade, a coisa funciona com a mesma dinâmica, desde que não aja interesses outros que não a agrádavel presença da pessoa na sua vida, em que há pureza no sentimento, cuja interação surgiu por mera liberalidade e sincronia de energias. O amor entre eles nasceu puro e assim pode permanecer.

Entretanto, ao tratarmos de um casal, a coisa muda de figura. Não consigo vislumbrar um amor desprovido totalmente de interesses, que não o de convivencia. Há outros elementos no relacionamento, tais como, interesse sexual, de constituir família, de investir numa carreira, proteger-se da solidão, etc. São muito os elementos que regem um relacionamento entre um casal e um casamento. E todos esses interesses são o adubo, terra e semente daquele relacionamento.

É errado afirmar que um amor verdadeiro não pode nascer de um relacionamento nascido de interesse sexual. Quando se tira o tesão inicial, quando se imagina o outro numa cama, moribundo, precisando de ajuda, e não se tem duvida do desejo de estar ao lado, de ajudar uma vontade de cuidar, há, ali, um amor de verdade. É fato.

O amor, quando supera o inicio de visão turvada pelos interesses, quando se consegue abstrair das qualidades que ofuscam o menor defeito, quando começamos a delimitar pequenos defeitos da personalidade do parceiro, e mesmo assim não vemos a vontade de estar junto diminuir, estamos diante de amor. Caso contrário, teremos a máxima expressão da paixão, um sentimento regido por todas as qualidades que consiguimos enxergar, com prazo determinado (dizem que a paixão dura no máximo 3 anos) e que causa angústia ao coração.

O amor não é isso. É paz de espírito, confiança múltipla, é ver qualidade nos feitos, e conviver com isso. É despir-se de sexo, dinheiro e presente e vesti-lo com o futuro.

A minha história me fez ver que nem todos os envolvidos numa história de amor conseguem demonstrar na mesma sintonia e intensidade do sentimento. Um sempre ama menos que o outro, uma sempre envolve-se mais rápido que o outro.

Os meus relacionamentos me fizeram ficar cético com a existência de um amor duradouro. Talvez eles apenas tenham me preparado para um amor de verdade, com futuro promissor, em que terei vontade de cuidar no fim de vida, e com quem não saberia viver sem. Talvez aquela pessoa que cruzará meu caminho e me fará esquecer os anos que a solidão me acompanhou, em que me perguntarei como consegui sobreviver sem aquele sentimento na minha vida.

Vivo em uma das maiores cidades do mundo. Sou um cidadão cosmopolita, com acesso à informação e cultura formal de diversas formas, com acesso a pessoas bem sucedidas, inteligentes, e por isso mesmo, com um padrão de qualidade muito elevado. Busco a beleza interior e exterior, por mais que saiba que eu mesmo não estou num padrão tão elevado assim, não preenchendo todos os requisitos das fotos de propaganda e revistas de celebridades. Longe de mim. Tenho outros valores a agregar e entregar. Mas a primeira impressão é a que fica.

Mas claro, na busca de um amor, precisamos, sem sombra de duvida, de um interesse inicial. E é complicado preencher todos os requisitos de um cara cosmopolita. Perceba que não é uma situação pessoal, mas circuntancial das pessoas que me cercam, pois percebo a mesma ansiedade nos meus amigos e colegas.

Os amores que podem valer a pena, precisam de paciencia para quebrar o paradigma inicial, e mostrar que tem muito a oferecer. E que suas qualidades superam os requisitos da “ficha de inscrição”.

Talvez tudo isso mude semana que vem, quando posso cruzar com um amor para toda a vida, pois como disse um amigo: “o amor é como um jogo de memória, só tem fim quando todas as cartas corretas se encontram”. Espero que para mim o jogo ainda não tenha terminado.

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