terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Crise de Amor Incondicional

Essa semana, finalmente assisti ao filme Marley e Eu, e posso dizer que apesar de ser piegas, com a exclusiva finalidade de fisgar os sentimentos do espectador o filme traz, ao final uma verdade incomoda: “o ser humano é incapaz de amar incondicionalmente”.


O ser humano analisa, antes de tudo, uma série de aspectos para poder amar, como o aspecto social, físico, cultural. Não casamos com o nosso primeiro amor, aquele inconseqüente, puro e despretensioso. Nos relacionamos com diversas pessoas, nos decepcionamos, perdemos a fé no outro e no amor, até que encontramos alguém que preencha requisitos menores. Romeu e Julieta foram intensos e trágicos pois era seu primeiro amor e não foi um casamento para toda a vida, e sua história não seria a mesma se eles tivessem sido divorciados.

Romeu e Julieta é uma história que só comprova quão inconseqüentes são os adolescentes, mas definitivamente não trata de uma história de amor maduro.

Casamos com aquela pessoa que nos faz sentir-se bem, que tenha uma boa família, que corresponda a alguns requisitos sociais do grupo a que pertencemos. Não há Romeus e Julietas na maturidade.

O Marley prova que só quem desconhece as regras sociais humanas, o socialismo e o capitalismo é capaz de amar o rico e o pobre, o feio e o belo, o homem e a mulher, o infante e o idoso da mesma forma, só um animal de estimação é capaz de idolatrar o “chefe da matilha” independente de qualquer fator, correspondendo em intensidade superior qualquer demonstração de carinho.

O ser humano quer mais e mais, quer ser amado sempre em porções maiores do que consegue amar. Quer demonstrações intensas de paixão, quer um suicídio, se possível, quer ser feliz até que a morte os separe, mas que isso aconteça de forma breve, prefere o drama de perder o amor ao desgaste diário do relacionamento.

Um animal de estimação espera alegremente o retorno do seu dono para casa, para desfrutar por 10 minutos de um afago carinhos, 5 minutos de caminhada no quarteirão e 2 horas de TV quietos, mas lado a lado, e uma noite trancado do lado de fora ou na área de serviço. 21 horas de solidão com expectativas para o que sobra do dia para ser vivido ao lado do ser amado. Nem entre pais e filhos há essa pureza no relacionamento, não após a pré-adolescência.

Quem em são consciência humana se bastaria com isso? E os restaurantes, roupas, presentes, viagens? E a família, amigos, sociedade? Deseja-se mais. E mais. E mais. Não há inocência nos relacionamentos humanos, que são dirigidos por sentimentos poucos nobres. Sempre haverá um interesse em jogo, nem que seja o do bom papo, da companhia agradável, as risadas, etc., haverá naquele relacionamento um interesse de reciprocidade, e ai de quem não corresponder e magoar o outro, pois estará destinado, impreterivelmente, à renegação e exclusão social.

Quem não quer um amor vira-lata, daqueles em que os interesses são menores em exigência, mas nobres em qualidade. Que demonstre alegria apenas com a sua presença, e que te ame intensamente, e que você pode amar sem medo de ser rejeitado.

Um amor assim, só mesmo nos contos de fada, mas que nunca teve uma boda de prata ou ouro documentada.

Talvez só os Marley e Lassies da vida possam no proporcionar esse tipo de amor, mas isso não nos impede de buscá-lo em todas as esquinas da humanidade, em busca do brilho de vida nos olhares perdidos dos zumbis que andam pelas ruas da vida.

Eu ainda acredito no amor, mesmo que seja de um vira-lata.

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