terça-feira, 23 de março de 2010

Crise do coração gelado

Sabe, depois de ouvir incansavelmente a música do George Michael, fiquei pensando nos motivos que fizeram eu me sentir tão tocado pela letra.

Como é normal, não cheguei a nenhuma conclusão, até porque a vida não é feita de respostas, mas de perguntas, questionamentos, devaneios, dúvidas... somos, sem sombra de dúvidas seres formados pela inconstância de nossas vontades, pelo incômodo do sossego dos nossos sentimentos. Esse combustível de dramaturgia viva nos dirige à felicidade por caminhos tortuosos.

A citada música fala do medo de um novo amor, que baseia-se nas experiências passadas de um romântico sofredor, daqueles que poderia morrer de tuberculose por ser abanadonado pelo seu amor para toda a vida. De alguém que sofreu tanto, que ganhou de prêmio um coração congelado.

Sou de peixes, e todas as minhas experiências íntimas, me fizeram, em algum momento, sofrer demais, mesmo nos casos em que eu dei causa do fim do relacionamento. O Processo de desligamento sempre foi dolorido, tomar a decisão, expor a posição, virar as costas e deixar a pessoa partir-se.

Independente da minha conjunção astronômica, estamos num momento social em que as pessoas tanto apregoam a solidão, o desejo para encontrar um amor eterno, em que as ferramentas digitais e as redes de relacionamento virtuais potencializam em milhares de vezes as possibilidade de encontrarmos pessoas com gostos, desejos, manias e características que tanto amamos e criarmos histórias efetivamente reais.

Somos, sem sombra de dúvidas, a geração de corações gélidos, em que temos medo dos relacionamentos efetivos e duradouros. Os solteiros e independentes são invejados pelos casados, com filhos, com aquela imagem de comercial de margarina tão repetida na TV e nas manhãs dessas famílias, enquanto nós temos medo de morrermos sozinhos e abandonados.

Será que a geração X - a que pertenço - ou a Y - que segue de perto - estão preparados para ter relacionamentos sérios e duradouros? Estaremos sempre insatisfeitos com o "amor" da semana, sem desejar o conjuge alheio, achando que ali mora a perfeição que tanto desejamos?

Estou num momento em que quero parar tudo, curtir delicadamente um relacionamento sério, ao custo de parte da minha liberdade, mas nunca da intensidade. Desejo um amor que me compreenda, mas que acima de tudo me deixe com a sensação de inconstância evolutiva, um amor que me faça ver minha qualidades, mas que acima de tudo aponte carinhosamente meus defeitos e dê força para a mudança, alguém que me force ao movimento quando necessário, mas que me dê colo quando a insegurança bater e que tenha um coração tão quente que faça a geleira que vive dentro do meu peito descongelar-se tão rapidamente que meu corpo todo será inundado de arrepios e paixão.

Acredito que um garoto da periferia também tem o direito de ser feliz... por isso, tenho esperanças que não é só a ponta do meu coração gelado se derreta, mas todo ele mostre-se capaz de alimentar as borboletas da minha barriga.

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