sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Crise de Chegadas e Partidas

Assim como diz a música interpretada pela Maria Rita, a estação é o local onde acontecem as chegadas e partidas, onde as pessoas chegam e seguem viagem, onde há despedidas, mas também reencontros. E é nesse ponto que quero me prender, os reencontros.


Estava no portão de desembarque do aeroporto de SP esperando meus pais e fiz um dos meus esportes prediletos: observar as pessoas, não com o simples interesse fofoqueiro, mas como um aprendizado da vida, e percebi a intensidade do sangue latino que corre nas nossas veias, com os reencontros ocorridos ali, naquele espaço público, em que não há vergonha para as lágrimas dos mais durões.


Enquanto observava, uma familia esperava ansiosamente a volta do filho que fora fazer intercambio em Londres, Inglaterra. Ali, o sentimento era uma mistura de orgulho, pois provavelmente foi o primeiro da família a romper a barreira do oceano para melhorar de vida, aprender uma nova língua e tornar-se cosmopolita, e o sentimento de saudades, de querer ter sempre perto a pessoa amada, mas que mesmo longe não fez apagar o sentimento da familia e amigos. Uma faixa estendida por uma das pessoas do grupo dizia em inglês algo como “não importa onde você esteja, em Londres ou aqui, eu sempre te amarei”. A força dessa frase derrete os mais congelados corações.


Do meu lado estava uma mãe e dois filhos, acompanhados da família nipônica. Aguardavam de forma ansiosa o retorno do pai e marido, que não viam a 4 anos, na sua última visita ao Brasil. Foi morar no Japão para dar condições melhores à família. A ansiedade da esposa, com saudades do beijo do seu marido, e ao que pareceu aos meus olhos do seu amor de verdade, saltava aos olhos. Os filhos, não se continham na ansiedade e embora, para mostrar toda a “macheza” da pré-adolescência juravam que não iriam chorar, estavam gelados, ansiosos, e embora eu não tenha visto a chegada do pai/marido, tenho certeza que as lágrimas não se intimidaram pelas promessas.


Mais adiante um rapaz solitário segurava o buquê de flores para uma pessoa amada. A saudade estava estampada nas rosas vermelhas, cor de paixão, que ele escondia cuidadosamente nas suas costas, para desvendar apenas no momento do abraço apertado.


Uma familia, parou o corredor de desembarque em abraços apertados aos parentes Espanhois, que acabaram de chegar de Madrid, a saudades deles era enorme, era Latina, o reencontro foi emocionante.


Essas histórias me fizeram refletir sobre a existência da palavra saudades existir apenas na língua Portuguesa. No ingles, você sente falta, nós também, sentimos falta de sorvete no verão, de água quando temos sede, mas é um sentimento menos nobre, mais ordinário. A Saudade é mais. Dói como paixão, certas vezes com a certeza de que irá desaparecer quando o avião pousar, o ônibus estacionar o trem parar, a porta se abrir e o abraço for dado. Outras vezes sabemos que a saudade não será jamais eliminada, pois a viagem foi sem volta, o enterro feito, a missa rezada e a vela acendida.


A saudade não é um sentimento exclusivo de quem fica, quem vai também carrega consigo na bagagem de mão, perto do coração, mas está enebriado pelas experências, entorpecido pelo jet leg, cansado da viagem.


É certamente, a saudade, é um dos sentimentos mais dificieis de lidar, pois, em sua maioria, independe de uma ação sua. Há o conformismo, o tempo que transformam a saudade em sentir falta, e talvez um dia, numa lembrança doce de um sorriso espontâneo e a foto instantânea colocada no porta retrato.


Nenhuma daquelas pessoas que desembarcaram ontem eram as mesmas que se foram um dia. Evoluíram, tiveram experiências, espera-se que tenham crescido, conehceram lugares, pessoas, perfumes, sabores. Quem espera, também mudou. Mas a junção da saudade de quem volta e quem espera, transformado em um abraço apertado, uma lágrima no olho, um sorriso no rosto faz com que só se perceba o essencial que retorna. Aquele coração para perto. Aquele amigo, pai, irmão, marido, mulher, filho que está no aconchego dos braços.


O desembarque é onde eu tenho a certeza de que ainda há sentimentos puros na vida cosmopolita e digital da contemporaniedade.

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