segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Edith Piaf – o pequeno pardal

Essa semana vi tarde demais o filme Piaf – um hino de amor, e se eu já gostava da Edith Piaf, hoje me apaixonei.

Ela foi a síntese do sofrimento de um artista, cuja alma não esta preparada para o mundo e sua crueldade. Uma pessoa que foi abandonada por todas as pessoas que a cercaram e amou por vontade ou pelo destino. Foi só, solitária, traída, intensa, diva, mulher, amante, esteve no céu, no inferno e no purgatório, esteve onde os mortais classe média nunca estarão.

Sofreu, sofreu e sofreu todas as dores dos amores que passaram em sua vida, desde o amor materno até o amor de seus homens e mulheres. Teve alguns amigos que se tornaram a sua família, que trocaram ao longo do tempo, e alguns que permaneceram por toda a sua vida, mas que apesar de tudo, ainda acreditava no amor ao final de sua vida.

Foi capaz, como dizia sua musica, de esquecer o passado, e que o bem ou o mal que lhe fizeram não importava, pois tinha o recomeço, o novo, uma vida pela frente, um ponto zero.
Talvez essa seja a síntese do desafio do ser humano na terra: ser capaz de recomeçar.
Normalmente nos vemos apegados às nossas vitórias do passado, os elogios, às magoas e derrotas, os amores e desamores que nos esquecemos de olhar para frente, e para a porta que se abriu em frente a nossos narizes, perdemos a oportunidade de nos recuperar, de termos um novo amor, pois deixamos nossos corações nos calabouços do passado, ali parados como que na overdose de demerol.

O reinício tão difícil em nossas vidas tão medíocres torna o nosso futuro tão impossível e improvável. Vivemos os ciclos dos acontecimentos em repetições eternas sem conseguir aprender 1 vírgula sequer, sem que isso seja esfregado em nossas caras por uma cartomante qualquer. Sem altas doses de fortes antidepressivos. Deprimimos-nos em nossa vida mais ou menos. Esquecemos do amor. Desistimos da felicidade pelo simples medo de sofrer uma decepção. De sentir a pele, o cheiro, o beijo e de um dia não ter mais nada.

Queremos a certeza da eternidade e a intensidade da paixão no mesmo pacote. Queremos você, ele, eu, o amor de novela. Mas não o risco. Nada de ônus, apenas o bônus da felicidade.
Piaf foi o que deve ser um grande artista, sensível até seus ossos. Sua artrite deve ter sido o reflexo da intensidade dos seus sentimentos, que não paravam na derme, epiderme ou endoderme, mas atingiam o mais profundo da sua alma. Nada de amores superficiais do tipo fast food, que se resolve ao fim dos 200 capítulos da novela, onde todos são felizes para sempre. Não isso na vida real. Romeu e Julieta foram mártires de um amor fugaz e a promessa da eternidade.
Cazuza, Maysa, Amy Whinehouse, Michael Jackson, Piaf, entre tantos outros artistas sofrem da dor dos amores vividos com intensidade não suportado pela delicadeza de suas almas de artista. E nos contentamos ver sua glória e desgraça, agradecendo aos céus por não termos sofrido dores tão profundas, e por nossas cicatrizes nos terem permitido continuar a viver.

Somos vítimas de nossos amores superficiais e sociais. Eu quero mais. Quero um amor eterno num reino distante, e que não seja levado pelo destino, mas que eu possa ter a alegria de manter ao meu lado pela vida. Quero a sensibilidade do poeta para entender o amor perdido, e a força para recomeçar do zero sempre que for preciso, independente do mal ou do bem que me fizerem, que eu tenha sempre um conselho a seguir, independente da idade, de amar. Sempre. Ame.

Mesmo assim acreditou no amor

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