domingo, 3 de agosto de 2008

crise de estrelas

Essa semana, num vôo de volta para casa à noite, fiquei observando pela janela do avião e vi muitas cidades no caminho que não conheço e que provavelmente nunca conhecerei, por falta de tempo, oportunidade ou mesmo indicação. Mesmo me prometendo conhecer um novo lugar a cada ano, o tenho feito, à trabalho, mas também preciso fazer por prazer.
Mas no caminho, vendo aquelas luzes acesas e o céu sem estrelas senti como se tivessem invertido as idéias do mundo, como se o céu fosse a terra e a terra fosse o céu. Como se louvar ao superior tivesse virado uma clausura ao nosso umbigo, o mais importante é o nosso eu individual e não mais o coletivo, pelo menos no Brasil, e percebo que no mundo capitalista isso não difere muito, com algumas exceções esporádicas e culturais.
Peguei-me pensando nas vidas de cada uma daquelas estrelas que representava cada luz acesa nas cidades, e nas sociedades das constelações ligadas por estradas invisíveis na escuridão da noite. Em quantas alegrias e desgraças cada uma delas deveria estar, a solidão de algumas e a confusão de outras em condomínios verticais. Vi luzes das cidades iluminando o céu que não retribuía com o brilho das estrelas ou da lua.
Há tanta coisa invertida nesse mundo, que o amor não é mais valorizado, exceto se for o amor por uma roupa da próxima coleção de NY, Paris, Tókio ou SP, não se ama ao próximo, não se ama a Deus, Jeová, Buda, Santos, Anjos, Deuses ou outras entidades que nos embutem uma certa carga ética, não se ama sequer o país, tentando todos a tirar proveito próprio da “pátria amada Brasil”. Todos desejam fama e riqueza, mas não se olha a luz vizinha, se ela está se apagando de tristeza, necessidade ou solidão.
Nós somos estrelas solitárias num céu vazio, e do que isso vale à pena?
Minha vida nas últimas semanas passou por mudanças radicais e situações intensas, e posso dizer que isso foi, em grande parte, por excesso de egocentrismo. Amor próprio é bom e protege do mundo, mas é preciso saber se deixar amar. Estou aprendendo isso. Deixar ser amado. Deixar que uma estrela se aproxime, e que junto com ela, cada um refletindo o brilho d’outro para que ele aumente e imunde os próximos com nosso amor. Estava tão preocupado com meu brilho que esqueci das outras estrelas. Não sou um monstro. Não sou um anjo de inocência. Apenas me deixei levar por emoções que imundaram meu coração com muita informação e meu ego se atrapalhou.
Amar e deixar ser amado, com sinceridade e intensidade é escolha, é oportunidade é felicidade. Não é fácil escolher. A liberdade d’alma e a liberdade de ser amado e amar, e voltar porque se ama. Deixar ir para voltar. Iluminar para ser iluminado. E então, o céu, sendo tão iluminado por luzes fortes pode voltar a ser o que era, nosso guia e a morada dos corações apaixonados.

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