quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Crise "ética"

A minha profissão pressupõe, por princípios e funções, uma ética paralela à ética dos seres normais. Ser advogado é trabalhar a todos os momentos em contradição com a ética religiosa, social, etc., mas dentro de princípios éticos da proteção do indivíduo. Uma das situações comuns é defender um assassino, traficante, estuprador, etc., os advogados, mesmo os incapazes de cometer um crime, defendem os delinqüentes que pratiquem tais atos.

Sou advogado e por isso vejo certa complexidade em julgar o comportamento anti-ético de algumas pessoas e tento não fazê-lo, mas é gritante a crise que cerca os nossos políticos. Não gosto de generalizar as coisas, mas com raras exceções (sempre torço para os eleitos com meus votos estejam nas exceções) nossos representantes estão envolvidos em esquemas realmente perigosos, que é a melhor palavra para expressar a situação.

Perigo porque quando temos um presidente do senado pagando uma pensão de R$15.000,00 para sua ex-amante, além de precisar manter-se e sua família com salário de R$13.000,00 (a conta não fechou) e acha, que apesar de todas as acusações tem o direito de ficar no poder. Isso é perigoso.

Quando temos um presidente que nunca sabe de nada e que acha que todo o crescimento do país (por menor que seja) é de sua responsabilidade única e exclusiva, e que a estabilidade recebida dos governos anteriores, a pouca maturidade de um eleitorado manipulável, do trabalho incansável das pessoas que recebem míseros R$380,00 (é preciso trabalhar uns 3 anos e dois meses para ganhar 1 mês da pensão da ex-amante) e acha que ninguém no país é mais honesto ou melhor que ele é perigoso.

Quando temos um alto índice de prefeitos afastados por diversas improbidades administrativas, dos mais variados índices e valores, e são substituídos por políticos mais corruptos ainda. Isso é muito perigoso.

Quando vemos um congresso que vota a continuação de um tributo que deveria financiar a saúde pública e vemos os pobres morrendo em filas de hospitais sem estruturas (ou com estruturas de um país em guerra civil, pex), cuidados por médicos, enfermeiras e funcionários mal pagos em greves eternas, e a classe média pagando fortunas em planos de saúde para que possam ao menos serem tratados com um pouco mais de respeito (não que seja uma regra) e que possam morrer em quartos individuais de um hospital limpo, isso é muito perigoso.

Quando estamos olhando uma pessoa que não se acha observada e ela comete pequenos delitos "inofensivos" à grande massa, apenas com o espírito de Robin Hood, tomando um pouco dos ricos e distribuindo aos pobres eleitos (no caso em tese, ele próprio), isso é muitíssimo perigoso! Pois é aqui, justamente nestes pequenos crimes impuníveis pela sua "pequenez" e desculpado pelo "jeitinho brasileiro" que nasce um povo incapaz de julgar seus pares eleitos para representá-los na assinatura de todos os contratos sociais a que estará sujeito.

São esses minúsculos delitos que tiram de nós, pobres burgueses, burra classe média, ignorante pobres impossibilitados de julgar àqueles que nos fazem tão mal.

Poderíamos ser mais fortes que a China, Índia, Hong Kong, México, Argentina... mas estamos aqui, no país do futuro, esperando o amanhã, que talvez um dia chegue para o expatriados que trabalham em países desenvolvidos, porque, e simplesmente porque, somos pequenos hipócritas apontando os dedos para a bandalheira alheia, esquecendo de olhar para o próprio umbigo e perceber que estamos atolados até ele...
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Tema por sugestão de um amigo! Leia o "E o Mundo Não Se Acabou!"

Um comentário:

emanuella disse...

O Rafael tinha razão...