terça-feira, 20 de novembro de 2007

Crise de ócio

Desde ontem estou sofrendo uma crise muito boa, a crise do ócio. Sim, não trabalhei ontem, nem hoje, em homenagem ao Zumbi dos Palmares, pois a empresa preza a diversidade e nos colocou em casa para pensar no assunto. Não que seja um castigo, mas um feriado assim, realmente é bom.
Esse ócio todo me fez fazer algumas coisas que não tenho o costume durante a semana: ler um pouco, navegar na internet e lavar meu carro. E esse ócio todo tem rendido boas conversas com meus amigos.
Hoje conversando com um deles, chegamos à conclusão que é bom estar em assim, sem compromissos, pois no fim de semana temos muitas coisas a fazer, mas depois de um feriado na 5ª feira, um fim de semana, e mais um feriado na terça, as obrigações esvaem-se e sobra tempo.
Não falo do Ócio Criativo do Domênico, em que todos um dia terão suas vidas seguidas pela mistura de trabalho, prazer e ócio, com o melhor aproveitamento do tempo, etc., estou falando do ócio, de escolhas pelo prazer. Escolher ficar na internet, vendo TV, filmes, seriados, etc... é algo que não fazemos sempre, pois estamos tão preocupados em viver intensamente que nos esquecemos de descansar e deixar o relógio arrastar-se na velocidade que desejar.
Nossa sociedade é escrava do relógio e de toda a velocidade de informação de nosso tempo, estamos sempre atrasados, sempre com um projeto importante para ontem, precisando conhecer as novidades culturais, musicais, sociológicas, sexuais, astrológicas, literárias, etc., para termos o que conversar (mas me abstenho de atualizar-me sobre novelas e programação de domingo na TV).
Estamos correndo, sofrendo, e nos atrasando sempre. E derepente nos deparamos com 4 dias de ócio. O que fazer. Ficamos preocupados que se não estivermos no lugar dos acontecimentos, naquela mostra de cinema, na exposição X ou na balada Y estaremos perdendo o bonde de nossas vidas, pelo menos se você morar numa metrópole como SP. Nos envergonhamos de ter preguiça, de ficarmos olhando a TV, simplesmente hipnotizados pelas suas cores, viajando num CD bom, deitado na rede, olhando o mar, apreciando a paisagem...
E então, toda nossa culpa de ter direito ao ócio nos impede de curtir o momento.
O Carpe Diem também me permite um dia de ócio na minha vida de vez em quando, e quantos outros eu achar necessário e isso sem me culpar. Se não me culpo de viver intensamente, porque vou fazê-lo dos momentos de descanso.
Aristóteles, quando escreveu para seu filho Nicômaco, estava certo, a felicidade está no equilíbrio. E aqui, me dou o direito de dizer que está inclusive em dosar a intensidade de todas as atividades disponíveis na metrópole e o simples fato de não fazer nada.
Por isso, estou aqui, sem crise nenhuma, fazendo algo diferente: nada!

Um comentário:

Anônimo disse...

Ócio, estado de inércia...
Eu gosto, mas às vezes me irrita e me dá medo.
Ótimo texto!